Poema perdido (talvez, vencido) III

Por certo, isso é um excerto:

essa página restou inteira no monturo de farináceos produzidos, em diuturno trabalho, pelos cupins que perscrutaram parte deslembrada da minha parca literatura.

Ao que deduzo, as partes I e II desse alfarrábio pretensamente literário, quedaram esfarinhadas sob a sanha dos silenciosos Itapecuins.

Restou, assim, esse esforçado excerto que aqui exponho:

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III

Numa fria madrugada de inverno

vi um coração arder em doce inferno

Você voltou de madrugada:

o passo era o mesmo, o mesmo porte,

a mesma voz, o mesmo olhar.

Sentou-se sobre o meu peito

e, delicadamente, com a sua mão de névoa,

despertou cada um dos meus sentidos.

Depois pegou meu sono

(e alguns dispersos sonhos)

dobrou-os com cuidado

e guardou na sua bolsa de mulher.

Eu me vesti de emoção,

contra o rigor da noite fria,

acolhi palavras vãs

(que transitavam desamparadas)

e fiz … poesia.

Retrato do poeta quando bancário
Foto: Sérgio Cardoso