A efêmera poesia das ruas

 

Gilson Soares tem grande zelo pela memória histórica. Os exemplos são inúmeros. Um bastante eloquente é o Festival Sérgio Sampaio, evento anual que teve sua 17ª edição em 2023. E não deve parar. O poeta não é só zeloso, mas também persistente.
Outro sintoma dessa preocupação com a memória está no Clube Capixaba do Vinil (CCV). Gilson é, de fato, guardião de um invejável acervo de discos de vinil. Com frequência é possível ouvir parte desse acervo em eventos capitaneados pelo CCV, cujos programas meticulosamente concebidos. Detentor de um conhecimento impressionante sobre a música brasileira, o escritor usa a experiência como produtor cultural para realizar uma perfeita harmonia entre temas, fazendo aflorar a relação entre o que fazem os artistas da música e a sociedade na qual eles estão inseridos.
Embora fosse possível prosseguir com muitos outros exemplos, é melhor resumir a história e passar para o tema que interessa aqui. Quem quiser acompanhar melhor a trajetória de Gilson pode participar da próxima edição do Festival Sérgio Sampaio, ver os vídeos do canal do Clube Capixaba do Vinil no Youtube ou, ainda, conhecer seus livros, cujos poemas trazem a marca desse inquieto explorador e guardador de memórias. Falemos, então, de Zuru.
A história foi revelada em um texto da coluna Cem palavras, publicada todos os domingos nas redes sociais da Editora Cândida. Conheçamos a história contada pelo próprio Gilson:

 

 

Como o colunista tem o costume de publicar textos que trazem alguma referência circunstancial, essas cem palavras que trazem o Natal de Zuru surgiram no mês de dezembro. Mas o que não foi dito na ocasião é que o poeta fez registros fotográficos das ditas “garatujas” que localizou pela cidade de Vila Velha. Daí veio a ideia de ocupar sua coluna com cem palavras dedicadas aos graciosos textos que o incerto Zuru publicou anonimamente nos muros vila-velhenses.

O hábito de Gilson de fotografar lugares por onde passa é conhecido. Sua viagem de bicicleta acompanhando o curso do Rio Doce foi devidamente documentada em crônicas e fotos, as quais  estão publicadas – em texto e imagens – no site Estação Capixaba, acessíveis no link https://estacaocapixaba.com.br/com-magrela-na-estrada.

Iniciado o projeto no dia 11 de fevereiro de 2024, a primeira imagem publicada na seção Cem palavras foi registrada na avenida Carlos Lindenberg, mais ou menos dez anos antes, em um muro que já não existe. A foto original segue abaixo:

Gilson conta que, algum tempo após ter tirado a foto, viu que parte do texto havia sido encoberto por um anúncio. A situação foi capturada pelo indiscreto carro do Google em junho de 2017 e pode ser avistada no Maps, como segue:

Anos depois, Gilson decidiu escrever o texto de cem palavras para o pequeno poema Natal, conforme mostrado acima. Foi assim que Zuru se tornou um dos muitos personagens que aparecem na coluna. Em algum momento iluminado surgiu a ideia – imediatamente acolhida pela editora – de publicar o acervo de fotos que recuperaria os extintos grafites. Estariam assim combinadas duas vozes contundentes: a do grafiteiro desconhecido e a do poeta memorialista. O texto de cem palavras que acompanha o Ônibus de Zuru foi publicado juntamente com a foto tirada antes do vandalismo. A arte, divulgada nas redes sociais da Cândida, é vista abaixo:

 

 

A história de Zuru pode dar uma ideia das muitas facetas de um autor que tem longa militância não só na literatura, mas na cultura de uma forma geral, além das evidentes preocupações com causas sociais urgentes, aspecto que o autor também inclui em suas obras. Tamanha variedade de inclinações se refletem na coluna Cem palavras, resultando em grande variedade de temas e formas. Referências a lugares, pessoas, acontecimentos políticos, entre outros assuntos, são apresentados em poesia e prosa. Alguns textos são inclusive letras de músicas, pois Gilson, além de poeta e cronista, é também letrista e tem um considerável número de músicas gravadas, algumas delas premiadas.

Os próximos textos de Zuru serão publicados nos perfis da editora Cândida no Instagram e no Facebook, juntamente com as respectivas fotos. Vale dizer que a editora prepara ainda a publicação de um livro com uma seleção de cem textos da coluna escolhidos pelo próprio autor.

Conheça os livros do autor na loja virtual:

https://loja.editoracandida.com.br/buscar?q=gilson+soares