Tanto eu, esse parco poeta, quanto ela, Preta, minha namorada então, somos vila-velhenses por adoção:
ela, ribeirinha (valadarense) do Doce, veio ainda criança pra Glória;
eu, ribeirinho (ecoporanguense) do Dois, me acostei ao morro de Jaburuna algum tempo depois.
Forasteiros ambos, enamoramo-nos da Vila muito antes de namorarmos.
Assim, esse olhar transeunte que perpassa pela canção é tanto meu, quanto dela:
o que busca a letra é relatar a (apaixonada) locação dos nossos passeios de então:
era assim que víamos (juntos) a cidade.
E é assim que guardaremos para sempre, na memória do nosso olhar, essa velha vila vizinha do mar.
Vila bela
(com Luiz Vicente Piruca Gonzaga)
Se eu velejo na volúpia
do teu vento
enquanto a noite de verão
nasce do mar
resplandece ao meu olhar
o teu Convento
branca nave alada
ao luar
No fulgor do alvorecer
Santa Luzia
lança olhares sedutores
pra além-mar
do Moreno uma asa-delta
principia
breve viagem pra na praia
aterrissar
Aquarela de Massena
que o mar acaricia
Vila Velha, vila bela
continente da poesia.
Quando a tarde se apresenta
com seu ouro
sobre a Costa, sobre a Barra
sobre o mar
andorinhas saem em bando
e em coro
desenhando partituras
pelo ar
E a Vila é uma canção
ao fim do dia
com donzelas sereiando
à beira-mar
bem-te-vis contraponteiam
a melodia
enquanto a lua se anuncia
atrás do mar.
Aquarela de Massena
que o mar acaricia
Vila Velha, vila bela
continente da poesia.
Ouça a canção
arranjo e interpretação instrumental e vocal: André Costa
gravação: Estúdio Alfa 2 (bairro Alzira Ramos, Cariacica, ES)