Vida teimosa

Evando Anholeti (embora moço) é um velho parceiro.
Dado às mais variadas cordas (violão, guitarra, viola caipira…) e ao invento de prazerosas melodias, Vando, como é nominado no âmbito familiar, andou frequentando noites etílico-musicais do Bar do Pantera, no decorrer da primeira década deste (assombrado) século XXI.
Foi aí (ali) que o conheci.
Algumas canções brotaram e floresceram logo, logo com a urgência que o lirismo daquela quadra criativa nos proporcionava.
Depois por circunstâncias urbanas, geográficas, profissionais (enfim, coisas da vida) nossa convivência e nossa criação artística experimentaram um largo hiato (: uma década ou mais, não sei o exato).
Agora, já neste (nefasto) terceiro decênio do século, eis que recebo do Evando um áudio (dele tocando e cantando uma canção estradeira, que me agradou de cara) acompanhado da pergunta: “reconhece essa letra?”.
De pronto, respondi que não.
Ao que ele me retornou com um print recolhido do baú digital onde estão velhas propostas que lhe enviara durante a tal quadra criativa da nossa antiga parceria.
Como o projeto Calango no Congo já estava em andamento e a canção se encaixava nessa proposta coletiva, tanto o meu parceiro (e intérprete em todas as faixas) Victor Batista, quanto Bel e Baretta (idealizadores do Projeto) e Marcos Côco (diretor musical) aprovaram (com louvor) a inclusão de Vida teimosa nesse álbum que chegará às plataformas digitais em maio2025.
Assim Letra por letra traz hoje uma criação (peça literária?) quase perdida, mas recuperada a tempo de entrar pro Calango no Congo e de ser agora, sob a chancela da Cândida, postada aqui para a sua (sempre generosa) apreciação.

Vida teimosa
(com Evando Anholeti)

Por barrancos e barreiras a viola eu vou tocando
no alforje vão os versos que a vida vai me ensinando.

Em noite de lua cheia caminhante faz serão:
meia lua ou lua e meia, tem viola e tem canção.

Tem poesia cintilando na poeira da estrada,
violeiro vai cantando saudades da namorada.

Ê vida teimosa, buscando o que está em mim
a estrada vai embora e a viagem não tem fim

Uma mineira maneira quis comigo viajar:
trouxe luar, trouxe esteira, me deu colo pra sonhar.

É de sonho que me farto: meu sustento e meu empenho.
O meu verso é artefato, tem paixão e tem engenho.

Vou-me embora quando a hora pra estrada apontar:
minha lida é vida afora e o agora é o meu lugar.

Ê vida teimosa, buscando o que está em mim
a estrada vai embora e a viagem não tem fim