Três Corações (ou Taquarinha?)

Na manhã daquela sexta-feira, 6 de junho (completando uma semana de estrada) eu deixava Pedro Canário e tomava o rumo de Cristal do Norte.

O arremedo de planejamento que orienta as minhas viagens indicava que ao final daquele dia ancoraria a magrela na cidade de Montanha onde tinha um encontro marcado, no sábado.

Mas não foi bem assim.

Veja só:

cheguei a Cristal ainda pela manhã, pedalei um pouco pela vila, conversei, comi uma coisa, bebi outra, e dali parti para o meu objetivo mais importante daquele dia: Três Corações.

Agora que estamos chegando posso contar pra você o motivo do meu interesse por esse lugarejo:

Três Corações, que também atende pelo nome de Taquarinha, é uma pequena vila do município de Mucuri (portanto em território baiano) que está assentada na extremidade oeste daquela (impositiva?) linha fronteiriça que foi esticada a partir da barra do Riacho Doce.

Na periferia de Taquarinha, aquela linha reta, estranha à cartografia, esbarra numa aresta de chão mineiro.

E para.

Dá-se então ali uma tríplice fronteira estadual: Espírito Santo, Minas Gerais e Bahia.

Na minha viagem ciclística de 2013, eu tinha descoberto, também meio sem querer, a Fazenda Três Estados, no município de Dores do Rio Preto, que abriga nossa tríplice fronteira Sul: Espírito Santo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Lá a linha é líquida, límpida e curvilínea (como convém à cartografia): o rio São João que desce cortando o costado do Caparaó pelo lado mineiro encontra-se com o rio Preto, que desce com comportamento idêntico, só que do lado capixaba.

Desse enlace resulta o rio Itabapoana, que, desde ali, até o mar, marca a divisão dos territórios capixaba e fluminense.

O encontro dos dois pequenos rios pode ser observado do terreirão da sede da tal fazenda fronteiriça, o que autorizou que ela recebesse esse nome que exibe orgulhosa no frontispício: Fazenda Três Estados.

Assim, não fica difícil pra você entender o meu imediato interesse, quando, em Itaúnas, fui informado da existência desta vila:

concluía agora, ali – na silenciosa Taquarinha – uma linha torta que tracei, ao acaso, entre as duas tríplices fronteiras, que distinguem a cartografia do nosso estado: da Fazenda Três Estados até a Vila de Três Corações.

Eu e ela, magrela.

Taquarinha, em princípio, é o nome do riacho que corre – ou corria? – por ali ao encontro do Taquaras, córrego este que vai entregar, mais à frente,  sua decadente contribuição fluvial pro Itaúnas.

Embora não tenha encontrado muitos interlocutores na minha passagem por aquele povoado, guardei a impressão de que há controvérsias, talvez veladas, quanto à alteração do nome original.

Eu, ainda que não tenha sido convidado a opinar e não tenha, também, a menor atração auditiva por diminutivos, confesso que este primitivo topônimo, oferecido pelo esforçado arroio, roça minha audição com sonora e divertida simpatia:

Taquarinha!