Minha paixão pelo jornalismo começou a se desenvolver ainda na infância, em Ecoporanga, no início da década de 1960.

Meu pai, seu Fizinho, tinha uma loja de tecidos, confecções, calçados, utilidades domésticas e armarinho na noviça cidade – Ecoporanga se emancipou no mesmo ano em que nasci, 1955.

Quando de suas viagens, ele, José Soares Neto trazia revistas e jornais, que eu esperava ansioso: O Cruzeiro, Revista do Esporte, O Jornal, todos do Rio de Janeiro, eram as nossas publicações preferidas.

Por um período, seu Fizinho chegou a assinar O Jornal (órgão dos Diários Associados), que chegava a Ecoporanga – numa esforçada e emaranhada logística – em até três ou quatro dias depois da publicação.

Mas tinha o rádio, claro, que era a nossa fonte de informação imediata.

Assim, sempre tive o jornalismo, antes até que a literatura, como um sonho, um desejo.

Só muito tempo depois – e bem lentamente – fui permitindo que essa paixão infantil se desfizesse.

Na verdade, não fui eu que permiti.

O rumo que tomou nossa imprensa noticiosa é que foi destruindo em mim aquele sonho pueril.

Nos meses que antecederam esse Giro ciclístico, feito em junho de 2014, por exemplo, a nossa imprensa andou expondo a sua nefasta desfaçatez:

os grandes veículos de comunicação do país, submetidos ao viés político que representam, trabalharam com impatriótico afinco para que a Copa do Mundo no Brasil fosse um fracasso.

Ou até mesmo para que a Copa não acontecesse.

Já pensou?!

Diziam – sustentados unicamente por escusos posicionamentos partidários – que os estádios não estariam prontos e que nós, Brasil, não tínhamos preparado a infraestrutura necessária para receber um dos maiores eventos esportivos do planeta.

O que esses cães de guarda do capitalismo doméstico exibiam, na verdade, era seu rodrigueano complexo de vira-lata.

Foi preciso, olha só!, que a mídia internacional descobrisse que nosso país estava, sim, preparado e que aquela poderia ser – como foi – a Copa das Copas.

Mais uma vez se confirmava, porém, que o relato informativo honesto, isento, correto, tinha desaparecido do cenário jornalístico nacional.

Mas por que estou dizendo isso?

Explico: é que depois de aproveitar na íntegra aquele pôr do sol com que fui recebido, tive tempo ainda de entregar exemplares de Minério para a biblioteca da EEEFM Ecoporanga – que se chamava Colégio Pio XII, quando ali estudei – e para a Biblioteca Pública municipal.

Feito isso, me hospedei, acomodei a magrela num lugar que se mostrou confortável pra ela e me preparei para um passeio pedestre pela minha cidade.

Mas antes de sair – a noite só começava – considerei conveniente tomar uma cerveja na calçada do hotel que me acolhia: o histórico Hotel, Bar e Restaurante do Dico.

Minha intenção era ficar por ali, silencioso, observando aquela locação por onde transitam, serelepes, os primeiros anos da minha história.

Mas o acaso, como sempre, tinha um pouco mais a me oferecer:

assim que me aboletei sedento, eis que surge à minha frente o Toboi.

Amigo de infância, ele, logo de início me informa que seu velho apelido fora abreviado (e acentuado): agora é . Só.

(concedi) é um repórter, um cronista da cidade.

O tempo que permanecemos ali, não foi muito diferente de uma hora.

Se mais, pouco. Se menos, muito pouco.

Mas foi tempo suficiente pra que ele me atualizasse com um histórico e prosaico panorama da cena ecoporanguense.

A sua memória, a precisão cronológica e a isenção que se impõe – o que pude constatar durante a conversa – não deixaram dúvida:

taí o , com um talento e uma consciência de dever jornalístico, que a grande imprensa brasileira deveria adquirir.

Talvez ele nunca tenha sonhado em ser jornalista.

Não sei.

Mas o que me chamou a atenção foi a sua espontânea generosidade parlamentar e a sua admirável capacidade de registro das minudências que sustentam a história da cidade.

Tudo isso servido com linguagem leve e bem humorada e com o prazer de se saber realizando um relevante trabalho.

Como seria aquele jornalismo que sonhei, quando criança, na ainda recém-nascida Ecoporanga.

Crônica publicada originalmente no site Estação Capixaba. Foto: Gilson Soares.

Gilson Soares é poeta.
A Editora Cândida acaba de lançar mais um livro deste escritor: Cem palavras. Uma seleção dos textos publicados em sua coluna semanal nas páginas virtuais desta Editora. O livro pode ser adquirido na loja virtual: https://loja.editoracandida.com.br/cem-palavras