Samba da Panturrilha

Neste meu percurso (amador) de letrista, por três vezes eu criei sozinho uma canção: letra e música.
Mas das três, só esta aqui (até agora) recebeu tratamento instrumental e foi contemplada com uma interpretação que generosamente captou meu (deplorável) esforço vocal criativo.
Sim, inventei sozinho (correndo e cantando) este Samba da Panturrilha.
Explico: eu participei de mais de vinte das trinta e poucas Dez Milhas da Garoto que vêm acontecendo ano a ano, entre Vitória e Vila Velha, desde o final do (cada vez mais) distante século XX.
Por conta de um conjunto de incompatibilidades (digamos, políticas) que começaram a surgir, acabei me afastando dessa (linda!) corrida de rua capixaba.
Desde que a velha Garoto deixou de ser Garoto e virou Nestlé, o meu amistoso relacionamento com o sorridente pirralho capixaba e com aquele antigo capitalismo doméstico (e suas lendas), desandou.
Além disso, a Dez Milhas passou a fazer parte de um circuito de eventos meio turísticos, meio esportivos que atende (cada vez mais) aos adeptos dos modismos consumistas e dos exibicionismos digitais.
Desse jeito, tô fora!
Mas o tal Samba que eu falava pra você, nasceu do diálogo que desenvolvi quando uma integrante (importante) do conjunto de tendões, ossos e músculos que permitem meus treinamentos, a panturrilha, começou a reclamar.
Pior é que faltavam poucos dias pra mais uma prova da Garoto.

Inspirado pela beleza (sem igual) desses 16 kms de litoral e instigado pelo desejo de correr, concluí a tempo a canção e (mesmo capengando) completei emocionado aquela Dez Milhas.
Foi nessa levada (e cantando durante todo o percurso o Samba da Panturrilha!) que eu consegui chegar lá.



Samba da Panturrilha
(gilson soares)

Panturrilha, minha filha,
quero correr as Dez Milhas
você tem que me ajudar

tô treinando há quase um ano
pra vencer os quenianos
não atrapalhe os meus planos
na Glória quero chegar

Colabore panturrilha,
pois Vitória é uma ilha
Vila Velha é maravilha,
mas no meio tem o mar

e é sobre o mar
que eu vou passar correndo
com a Penha me protegendo
na Garoto eu vou chegar

e é sobre o mar
que eu vou passar voando
com a Penha me abençoando
sou garoto, eu chego lá.

Arranjo: Lobão
Interpretação: Beto Capoeira e Lobão
Gravado no Estúdio Alfa 2
Alzira Ramos, Cariacica, ES
Engenharia de estúdio: André Costa

Ouça a música: