Regentes com a mão na massa

Quando cheguei a Regência na manhã daquele sábado, 30 de maio, a Vila augusta já estava se engalanando para o maior acontecimento do seu calendário festivo: a Festa do Caboclo Bernardo.

O auge da programação aconteceria no final da semana seguinte, mas alguns eventos da festa já estavam transcorrendo naquele fim de semana. Concomitantemente – desculpa – peças destinadas aos dias em que a festa alcançaria seu ápice, estavam, ainda, sendo produzidas.

Por isso, naquele sábado, chegando lá, dei com muitos regentes com a mão na massa.

É que a Festa do Caboclo Bernardo, uma das mais importantes e tradicionais do calendário capixaba de cultura, mantém – ave! – um forte viés artesanal. Talvez seja esse, inclusive, um dos motivos que fazem dessa manifestação festiva ali na Vila uma das mais atraentes do estado.

A escala por quase dois dias absolutamente descompromissados em Regência, confirmou com exatidão o que eu havia previsto e programado. Por isso, na segunda-feira, 2 de junho de 2014, depois de ter presenciado a vila pudica se vestindo para lembrar o centenário da morte do seu herói (Bernardo José dos Santos foi assassinado em 3 de junho de 1914); depois de ter absorvido a frugal energia regenciana; e depois de ter deixado exemplares de Minério na Biblioteca Comunitária e na biblioteca da EEEF Vila de Regência, pude efetivamente tomar o rumo do Arco  Norte, com a alma clara, o corpo bem disposto e – enfim! – a carga sobre a magrela um pouco menor e mais leve, além de decididamente equilibrada.

O desafio agora era transpor a boca do Rio Doce, que ali, silente, abre-se desmesurada como que querendo abocanhar o mar.

Com a participação colaborativa dos amigos que tenho na Vila, logo, logo – ainda no domingo à tarde – fiz contato com um pescador que na manhã seguinte nos transporia – a mim e à magrela – para o lado norte da foz do Watu.

A travessia das águas do manso estuário naquela manhã azul de segunda-feira, num pequeno barco a motor, deixou claro pra mim que o meu giro ciclístico pelo Arco Norte Capixaba se prenunciava reluzente.

(Continua no próximo domingo)

Crônica publicada originalmente no site Estação Capixaba. Fotos registradas por Gilson Soares.

Gilson Soares é poeta.
A Editora Cândida lançará brevemente mais um livro deste escritor: Cem palavras. Uma seleção dos textos publicados em sua coluna semanal nas páginas virtuais desta Editora.