Esse grito-canção

Era dezembro de 2020 quando eu e meu amigo Élcio Bortolon nos encontramos na saída de um banco, no Centro de Vila Velha, cidade que coabitamos.
Desde muito não nos víamos e do afogadilho daquele encontro fortuito, resultou apenas o registro mútuo dos respectivos números (de telefone).
Antes ainda que aquele dezembro (grave) findasse, o antigo amigo, redivivo, enviou, por mensagem de áudio, uma canção em lará lará (e violão).
Logo na minha primeira audição ela, a canção, se acomodou em algum desvão do coração.
Aquela levada trazida pela proposta musical deu de desenhar, em mim, a alegria amistosa que costuma se manifestar (silenciosa) em (re)encontros de olhar;
embora desenhasse também fortes nuances daquele momento cinzento em que a humanidade estupefata percebia (emascarada) a sua iminente derrocada e em que o Brasil era (des)governado por uma milícia eleita pela ignorância e sustentada pela ganância.
Mas na estrada daquela levada fui encontrando a expectativa viva da solidariedade coletiva e da amizade social que (queremos) se fará universal.
Alguns dezembros depois e ainda com tormentas cinzentas fustigando o ar, a (generosa) canção do amigo redivivo insiste em anunciar a importância de amar.


Esse grito-canção
(com Élcio Bortolon)
– interpretação (vocal e instrumental) e arranjo: Marcos Côco –


Quanto tempo, meu caro, tão bom encontrá-lo, rever, conversar.
Impedidos do abraço, recolhemos no espaço os risos do olhar.

É tão bom velho amigo reencontrar contigo nesse tempo de espanto:
tanta lágrima, cara, no silêncio das máscaras vejo a Pátria em pranto.

Mas reforça a amizade e desfaz a saudade esse encontro na dor:
juntos nesse deserto plantaremos por certo palmares de amor.

ah, então velho amigo venha cantar comigo esse grito-canção.
O momento é agora, tamo junto, vam’bora é hora de ação.

Vem descalço pra estrada pra encontrar a moçada que alimenta o querer
que tem mãos pra servir, partilhar, repartir, e valoriza o ser

traz a boa vontade com coragem, bondade para o mundo mudar.
Deixe o vil metal, se desarme do mal: o que importa é amar.

Ouça a música