Cadê o sambista elegante?

Desde que o samba é samba, frequento o iluminado terreiro deste Brasil-brasileiro (deste Brasil pandeiro): só danço samba.
Brincadeira, claro: mero jogo de citações.
Mas o samba (de todos os tempos, de sempre) é mesmo parte consistente da minha formação (poética).
Meu pai, dando exemplo, cantava Noel, Dorival, Ataulfo, Ismael, Assis, Ary e tantos mais por aí.
E foi assim que aprendi.
Depois, (pretenso) letrista, acabei transitando por subúrbios do samba, sem querer ser um bamba.
Quem dera?!
Daí, que nessa vertente, tenho também algumas letras (ainda) solteiras, à espera de um bom partido musical.
Como essa que apresento hoje em mais um episódio (sem áudio) da nossa série, aqui no site da Cândida.
Esses versos lembram um samba-lamento, comentou (assertivo) um velho e confidente amigo ao ler essa letra, que nasceu (não contei isso pra ele, mas conto pra você:) de um eu (lírico?) confessional.


Cadê o sambista elegante?
(sem música)

Maltratei o nosso amor
falei dele com ironia,
desenhei a nossa dor
com o pincel da alegria;

enfeitei o desenlace
com o laço da liberdade,
fiz pouco caso do impasse
e duvidei da verdade:

hoje o passado me enlaça
hoje a saudade me aperta:
tua lembrança me abraça
sozinho na praça deserta.
Cadê a minha ironia?
E aquele sorriso galante?
Onde anda o pintor da alegria?
Cadê o sambista elegante?

Zombei do teu coração
zombei da tua saudade
desprezei nossa paixão
e descartei a amizade.

descuidei daquela flor
que perfumou minha estrada
desdenhei do teu fulgor
de donzela enamorada:

Hoje o passado me enlaça
hoje a saudade me aperta:
tua lembrança me abraça
sozinho na praça deserta.
Cadê a minha ironia?
E aquele sorriso galante?
Onde anda o pintor da alegria?
Cadê o sambista elegante?